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Era o começo do ano de 1984.

Eu tinha exatos 30 anos. Acabara de me divorciar e tinha um filho de 4 e outro de 2 anos. Era sócia há 3 anos, da loja mais cool de São Paulo, a Naphtalina, que vendia bric-a-brac e ficava na Oscar Freire. Quando lentamente a rua se movia para se tornar o point do luxo em São Paulo.

Uma das raras fotos que tenho da Naphtalina, 1983

Uma das raras fotos que tenho da Naphtalina, 1983

Tinha sido casada por quase 10 anos e achava que muito difícil que me casasse novamente. Não porque não quisesse. Quem me conhece sabe que a minha musa inspiradora neste assunto sempre foi a Liz Taylor e seus 8 casamentos. Não cheguei lá, parei no 3º. Mas a vida é longa e ainda não desisti.

Mas voltando a situação de recém divorciada, eis que surge na minha vida, assim, sem quê nem para quê, um cara que era amigo de amigos e do ex-marido.

Elizabeth Taylor, atriz 1932-2011

Elizabeth Taylor, atriz 1932-2011

No ano anterior, um programa comandado pelo Goulart de Andrade saiu da Globo, foi pra TV Bandeirantes e passou a se chamar Comando da Madrugada. Naquele início de 1984, minha sócia e eu fomos procuradas pela equipe, nem em lembro como, para que Goulart gravasse o programa na loja. Comentei com o tal “cara”, assim “sem quê nem para quê”, que se ele quisesse participar da gravação, seria engraçado.

Sei que era tarde da noite, mas não me recordo o horário. Toca a campainha. Entra o cara. Wow! Um metro e oitenta e cinco de jeans bem escuro justo, perfumado, o sedutor caminhante.

Pouco mais, chega Goulart. Entra sacando um chapéu da chapeleira bem à porta e move-se pelos ambientes como se trabalhasse no local. Ao mesmo tempo, que tudo para ele era muito familiar, nos sentíamos super familiarizados com ele. Sim-pli-ci-da-de. Que qualidade simples e difícil de encontrarmos nos seres humanos!

Ontem, revendo a sua entrevista no Roda Viva, 30 anos após seu programa na Naphtalina, pude sentir a mesma sensação. A simplicidade e o caos. Quem revir o programa, vai ver que o âncora Augusto Nunes deixa de ancorar o programa para babar sobre o ídolo! É o poder de Goulart de Andrade. Calmo, falando baixo, sem rompantes e quebrando códigos. Ele se levanta do centro do Roda Viva e caminha. Augusto Nunes fica aflito, medo que ele se desconecte do microfone … Não me lembro de nenhum convidado deste programa que tenha se levantado da cadeira nestes 30 anos! Tão simples, tão inesperado. Tão bom!

A Naphtalina vendia o cotidiano antigo, o bric-a-brac: joias, bijuterias, latas de bolacha, roupa, acessórios, canivetes, canetas, fotos, calendários, postais, muitos brinquedos e bonecas, a vida do começo do século passado até os anos 1950.

Goulart começou a se “montar”. Me lembro que fez o programa com uma capa que achou num cabide e o tal chapéu. E todos ali também lançaram mão de algo para se fantasiar. Era como micro festa da fantasia, numa mini ilha da fantasia, com uma mega alegria no ar. Esta é a minha lembrança, embaçada e feliz de 32 anos atrás.

Maurício Laurino. "Quando eu crescer vou ficar criança!" - Manoel de Barros

Maurício Laurino. “Quando eu crescer vou ficar criança!” – Manoel de Barros

O Maurício, que tenho a certeza vai ler este post, poderá contribuir com a parte da memória dele. Começamos a namorar naquele ano. Ficamos juntos por 8 anos. Acho que a Liz Taylor se casou mais vezes, porque ela ficava menos tempo com os maridos.

Nesta semana, perdemos dois grandes jornalistas, memorialistas e mentores: o Goulart e o Geneton – aquele que fazia as perguntas que a gente nem sabia que a gente queria fazer. Simples assim.

Pesou para as gerações mais novas: tem que sair desta meninada pelo menos dois geninhos para que não fiquemos órfãos!

Notas:

Ainda não havia celulares, nem redes sociais. Que bom, minha memória se lembra de uma noite maravilhosa!

Goulart de Andrade, 1933-2106

Geneton Moraes, 1956-2016

 

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