Desplugando em 1, 2 ,3 (Beia Carvalho, 4 anos, praia do Gonzaga, Santos, SP)
(escrevo este relato poucas horas antes de sair de férias).
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Desde o último dia do ano, estou me sentido agitada. Uma coisa assim, não-sei-o-que. Uma palpitação. Mas não é para um lado ruim, dark. Já estive neste lugar. É horrível. Longo. Lonely. Suado. Não é isso. Eu reconheceria.
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Parece mais com aqueles segundos, que antecedem a chegada do namorado. Aqueles segundos antes daquele beijo na boca, cinematográfico, aqueles segundos enquanto você corre os olhos zonzos para achar seu nome na lista dos aprovados do vestibular, quando o voo chega em New York, Paris, ou Natal. Quando os meus filhos entraram na USP. Quando tiraram 10 na defesa de tese. Quando sua primeira plateia de 1.000 pessoas te aplaude e você não quer sair nunca mais do palco – e o coração quer pular pra fora de você. Então, já entendeu, não é?
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Mas Beia, isso não é uma coisa boa? É. Mas não passa. Sabe, aquela coisa da relatividade do Einstein? Fica aquele coração ali. Presente. Palpitando. Sim, fui medir a pressão. Baixa como sempre. Foi aí que me lembrei dos Florais de Bach. Foi um santo remédio no estágio final dos meus idos tempos de depressão. Sabe de uma coisa? É agora. Saí de casa a pé, direto para a Farmácia Buenos Ayres. Assim mesmo, com ipsilon. A dita cuja não fica mais na Praça Buenos Aires, sem ipsilon, da qual herdou o nome. Caminhar é ótimo nessas situações. O Júlio, um massagista japonês, uma alma de uns 1.000 anos, diz que andar faz a energia circular e tira essa sensação estranha que a energia parada no trânsito do seu corpo te traz. Verdade, estou a alguns metros da farmácia e já me sinto bem melhor. Eis que vejo um aviso “esta semana fecharemos às 18h”. Eles fecham às 20. São 7 da noite. A tal energia fluindo vira palpitação de onça ferida. Sabe como é, não é? Respiro fundo. Conto até 100 em algarismos romanos. Me lembro que tem a volta. A pé. Vou me acalmar.
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Hoje me levanto muito cedo. É meu último dia antes das férias. Tenho uma porrada de coisinhas pra resolver. Volto pra farmácia de Cabify. Praticamente abri a farmácia. Bom dia! Feliz Ano Novo! Floral de Bach, por favor. Tem esse de R$ 125 (cento o quê?) – coração dispara, vários palavrões lutam, entre si, para serem o primeiro a sair da minha boca. E quando não ia mais aguentar ser um ser civilizado, surge do nada uma daquelas mulheres do Laboratório Buenos Ayres, que provam a Tendência da Longevidade. Olha, o Floral de Bach é muito bom, mas é o dobro do preço do 2° mais caro. Alívio. Batidas cardíacas voltando ao normal e os palavrões cada um se encaixando de volta, na sua ordem alfabética, por verbete. Ela começa a me explicar e explicar e puxa o folhetinho e mais outro, pra eu comparar tipo, tamanho, preço, qualidade. E o Cabify lá fora me esperando. Saí cedo, sem tomar café da manhã. Começo a sentir os efeitos dinossáuricos do jejum. As palpitações se aceleram: os folhetinhos, os preços, os tipos, a mala pra fazer e um carro lá fora, me espera. Aborto a conversa? Opto por ouvir tudo até o final. Me decido pelo Equillibrium. Assim, com 2 “eles”. Como toma? Tá tudo no folhetinho. Pago. No caixa, mais uma daquelas decididas e bem maquiadas senhoras, que vão cruzar a linha dos 100 anos, com louvor. Ela ensina a mais jovem como operar a caixa registradora. Saio.
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Obrigada por esperar, vamos. Coloco o cinto e ataco o folhetinho. Tire o lacre, levante a tampinha e pingue 4 gotas sobre a língua. Tento abrir com a unha. Tento com a chave. Torço. Unha novamente. O coração já parece a bateria ensaiando pra fevereiro. Quem foi o infeliz que fez esse lacre? Tum. Tum-Tum. Tum-Tum-Tum-Tum-Tum. Consegui! Um, 2, 3, 4 gotas. Pronto. Passou.
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Vou até as Lojas Marisa. Nunca comprei nada lá. Eles também abrem às 8 da manhã. Chego e vou direto ao setor de lingerie. Onde? Fica lá embaixo. Milhares de calcinhas e sutiãs. Nada do modelo que eu quero. Subo e pergunto pra vendedora. Vi no site. Ah, é que a maioria (ela estressa a palavra maioria) das coisas que tem no site, não tem na loja. Ouço aquele titubeante “ah” sair do fundo da caverna da minha alma. E a segurança da cidade agradece às 4 gotinhas do Equillibrium com 2 “eles”. Me recomponho. Volto a pé. São 2 KM. É fazer o exercício agora, ou nunca. Depois é avião e muito chá de cadeira. Chego em casa. Procuro a chave. Isso. Adivinhou. Ficou no Cabify. Mais 4 gotinhas. Sobrevivi. Indo pro aeroporto de Guarulhos. #fui Começo o sumo esforço de desplugar das redes.
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